Recortes
"Aldo Lima é sinónimo, tal como o lendário Poço da Morte da Feira Popular, de arrojo, audácia, emoção. Mas ele não precisa de se empoleirar numa moto para impressionar. Aliás ele precisa de muito poucos adereços para que a gente veja tudo o que se está a passar, em todo o esplendor dos pormenores absurdos da vida. Ele é Toureiro, é Caçador, è Telefonia (rádio) a pilhas, é o desenho animado vivo mais selvagem desde os tempos de glória de Chuck Jones. Não nasceu na América e só por isso não teve direito a um especial na HBO. Mas um dia destes nunca se sabe."
Nuno Markl
[...]Também me surpreendeu Aldo Lima, que vi num excelente momento de "stand-up comedy" [...] Este humorista foi um dos poucos a utilizar o corpo, e bem, para criar humor, na tradição dos grandes criadores cómicos. O "sketch" revelava preparação e um humor ao mesmo tempo fino e aberto, o que não é fácil.
Eduardo Cintra Torres in Público
Entrevista ao DN
Protagonista de Palavras Para Quê, a série muda de humor da RTP1, Aldo Lima confessa-se adepto dos tiques e gestos do rosto como forma privilegiada de comunicação. Talvez por ser calado. Talvez porque os domina como ninguém. E não só para arrancar o riso. "Também os sei fazer dramáticos, sem cair na excentricidade", diz. Quando uma pessoa tem expressão, tem expressão.
Qual o seu segredo para fazer rir?
Depende. No programa são umas coisas, na stand up comedy são outras. Mas passa sempre pela observação do dia-a-dia, das pessoas. É através disso que caricaturo as coisas mais banais das nossas vidas.
Como a personagem do toureiro?
O toureiro nasceu devia eu ter uns 20, 22 anos, num Verão em que estava a passar férias na Figueira da Foz com primos e umas amigas. Bom, estava a dar tourada na televisão e de repente, a arena silenciosa, começou a ouvir-se aquele "ho ho, ho" do chamamento. Outros toureiros entravam e faziam "he he, he he he". E pronto, ficou. Depois fomos para a noite e passei o tempo todo a chatear os meus primos com aquilo, agarrei o jeito .
E de que se ri o Aldo Lima quando não está a fazer rir os outros?
De coisas inesperadas, que supostamente não deviam acontecer. Há coisas que me fazem rir, outras que me aborrecem. E por sinal há mesmo muitas que me aborrecem.
Como descobriu a facilidade de expressão corporal e facial?
Eu nunca sorri muito, sou tímido. Até que comecei a fazer palhaçadas naquele anúncio da TMN e percebi que as pessoas vinham ter comigo, a elogiar. Como com o toureiro: não era algo que fizesse sempre, até me dizerem "Ó pá, é fabuloso!". Apercebi-me de que podemos ter talento para certas coisas sem que tenhamos noção disso. E então descobri que as minhas expressões físicas são quase automáticas com as mentais. Visualizo à medida que estou a discursar, é inato. Não preciso de falar muito.
De que modo o Levanta-te e Ri o marcou como humorista?
Foi quando descobri que as pessoas na televisão ganham pouco (risos). E impulsionou uma geração de autores: a partir daí, começaram a aparecer pessoas que faziam o seu próprio material. Fui dos primeiros a entrar e dos primeiros a sair, e ainda hoje o público me fala da mesma maneira. Dá-me algum orgulho.
E agora o Palavras Para Quê?
Pela forma de fazer os bonecos, creio ser algo à minha medida. É uma vitória para mim e o João Quadros (que escreve), por não haver nenhuma referência anterior e estar a ter resultados muito acima do esperado. Lutámos três anos para explicar às pessoas o que isto é, as gravações são muito cansativas, a linguagem é transversal... É um marco.
Quem são os seus modelos?
Buster Keaton, pelo humor sempre actual. O Tati e o Mr. Bean, já com um humor mais datado. E depois o Raul Solnado. O Herman, que foi o primeiro a escrever originalmente para português o nonsense que se fazia fora. O António Feio, o José Pedro Gomes e o Miguel Guilherme – um sonho meu é poder fazer algo com os três. E o António Silva! Para mim é o grande maestro.
Como se vê enquanto profissional?
Como contribuinte (risos). Sou humorista e autor: escrevo coisas, interpreto. Actor não sou porque não tenho o curso da Gulbenkian... mas se calhar até sou, quando exerço.
E como pessoa?
Sou muito bem-disposto, mas em público fico tímido e muito reservado. Sou como um ninho de vespas: se me mexerem, as pessoas podem ser picadas ou não. Eu limito-me a estar lá, não procuro nada. Gosto de ouvir um elogio, uma crítica, mas há formas pouco ortodoxas de me abordarem por eu ser humorista. E não lido nada bem com isso.
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